“A raposa sabe muitas coisas, mas o ouriço sabe só uma grande coisa.” Esse fragmento do poeta Arquíloco descreve a tese central deste ensaio esplendoroso de Isaiah Berlin sobre Tolstói. Berlin revisita o verso para delinear uma distinção fundamental que existe na humanidade: aqueles que são fascinados pela infinita variedade de coisas (raposas) e aqueles que relacionam tudo com um sistema central e totalizante (ouriços). Quando aplicada a Tolstói, a imagem ilumina um paradoxo da sua filosofia da história e mostra por que o escritor russo era tão mal compreendido pelos seus contemporâneos e críticos.
Isaiah Berlin conduz uma sequência de argumentos que bagunçam qualquer certeza sobre como pensamos e agimos, pinçando preciosidades que fazem de Guerra e paz – obra-prima que encena uma visão russa das guerras napoleônicas e seu impacto brutal na sociedade – uma reinterpretação histórica tão bem-feita a ponto de confundir, com igual nitidez, ficção e realidade, vencedores e vencidos.