Levou tempo até que Günther Anders conseguisse escrever sobre a era nuclear, tamanho o choque que sofreu ao ouvir, pelo rádio, a notícia do bombardeio de Hiroshima, em 6 de agosto de 1945. "Apenas no início dos anos 1950 consegui dar o primeiro passo, inseguro", escreve. "Mas aquilo que consegui produzir não passou de uma confissão de minha incapacidade; não, da nossa incapacidade de ao menos imaginar aquilo que 'nós' fizemos ou produzimos." Com aquela destruição incandescente, a humanidade demonstrava ter adquirido definitivamente o poder de aniquilar a si mesma. Esse feito inédito fundou, segundo o autor, uma nova época: o "tempo do fim". Os três livros de Hiroshima está em toda parte — um diário, uma correspondência e um discurso — abordam o advento do autoextermínio e a responsabilidade de cada ser humano pelos acontecimentos monstruosos que marcaram o século 20.